Quanto aos sogros

janeiro 03, 2012

Não sei se isso ocorre com todo cadeirante, mas, uma das minhas grandes preocupações em namorar era quanto aos sogros, sei lá, eu sentia medo de não ser aceita, que sentissem ou que de repente pudessem duvidar da minha capacidade. Foi a partir  disto que comecei a pensar que a tarefa mais difícil não era namorar e sim ser apresentada pra família do rapaz. Afinal, deixando de lado toda a hipocrisia vamos combinar que ter uma nora cadeirante não é comum assim, aliás, se muitas pessoas já consideram tarefa difícil ter um cadeirante na família, mesmo que seja filho, que dirá quando essa pessoa não nasceu na família.

Eu simplesmente torrava meus neurônios pensando a respeito dessa questão de aceitação."E se eles tivessem vergonha de mim". " E se a mãe dele  achasse que eu não ia saber virar e que o filho deles ia acabar virando meu enfermeiro". "E se convencessem ele a terminar". Era tanto "E se..."  nessa minha cabeça e o pior de tudo era que, além de ter medo, eu ainda era capaz de concordar com os pais do cara se tivessem algumas dessas atitudes, isso já se tornava inevitável em minha mente. 

No início do meu namoro com o Bruno eu já o perturbava com  essas "paranóias" todas e parecia sempre estar muito mais preocupada do que ele com essa história de ter que apresentar para a família, e na verdade assumo, eu realmente estava mais preocupada!

O Bruno só me pedia pra relaxar, falando que esses meus pensamentos não tinham sentido, aliás, ele  sempre foi muito tranquilo, do tipo que não se importa muito com que os outros pensam e sempre me dizia que os pais dele, assim como todo o resto da família, não iriam se importar com  fato de eu ser cadeirante, mas, eu não me convencia.

Certa tarde sem que eu esperasse o Bruno me disse que já havia contado tudo para a mãe, eu não acreditei, afinal,  foi tão natural quando ele disse: "Minha mãe já sabe que estou namorando viu",  que cheguei a pensar que na verdade ele  estivesse escondendo algo e perguntei inúmeras vezes se ele realmente teria falado do detalhe da nova namorada dele se tratar de uma cadeirante. Acho até que eu chegava a irritá-lo com essa ladainha. Pra piorar a situação nessa mesma época passava uma novela na globo chamada "Viver a Vida" que tinha uma cadeirante interpretada pela  Aline Morais que sofria o drama de não ser aceita pela sogra pela sua condição física, isso me deixava ainda mais insegura.

Por fim, eu só fiquei mais tranquila mesmo quando pude conhecer a família de perto, e aí eu vi que não era nenhum bicho de sete cabeças, eu esperava que me fizessem milhares de perguntas, como: "Mas você consegue se virar bem?"." Já namorou antes?"." Pode viajar sozinha?". Mas nada disso aconteceu, eles foram bem simpáticos e também me trataram naturalmente, não ficavam me diferenciando, pareciam ter a mente bastante aberta e isso me trouxe muita segurança e até hoje é assim.

Vez ou outra vou até a casa dos sogrinhos em Poços de Caldas pra pousar ( na maioria das vezes é o Bruno que vem pra cá) e eu nunca me sinto um incômodo com aquela cadeira pra lá e pra cá rodando a casa, ninguém me olha de forma estranha, sou  muito bem tratada e não é puxasaquismo caso minha sogra ou meu sogro venham a ler isso, só estou descrevendo os fatos, eu realmente me senti acolhida e quando eu digo está palavra não é no sentido de que alguém teve pena de mim, mas sim que me trataram de uma maneira natural, assim como as coisas devem ser.

É como sempre digo, não podemos esconder as diferenças, a cadeira está alí, todo mundo vê e não quero que a ignorem, o que eu espero é que as pessoas passem a aceitar as coisas como elas são. Citando ainda a família do Bruno, fico tão mais feliz e segura quando vejo eles realizando tarefas como, guardar minha cadeira  no carro, eles fazem de forma tão natural, sem achar empecilho, é como se fizesse parte do dia-a-dia e ninguém torce o nariz, acho que quem fica mais preocupada sou eu mesma, é incrível ver como as vezes  preconceitos podem partir de dentro de nós e atingir a nós mesmos.



Até a próxima!

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8 comentários

  1. Fico feliz por você Day! A sociedade devia ser assim, mente aberta, da mesma forma que a família do seu namorado foi e é! ps: adorei o post =) beeijos Isa.

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  2. Dá até para ouvir o Bruno falando esse " viu"...heheh

    "Minha mãe já sabe que estou namorando viu"

    Ruan

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  3. Muito bom o post. E com certeza vc disse tudo, mtas vezes o preconceito parte de dentro de nós e só atingem nós mesmos.
    Fico mto feliz por vc e seu namorado, junto de algm que amamos problemas pequenos sao mais faceis de serem enfrentados.
    -Raquel

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  4. Pois é gente, mas nem sempre é assim que acontece, que bom que comigo deu tudo certo até agora.

    Beijos e obrigada pelos comentários.

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  5. Sensacional, exemplo de sogros! Por sorte, sempre tive muita sorte com sogros também, nunca passei por muitos "apertos" para me encaixar na família. Eu acho que acaba não importando a cor, credo ou qualquer limitação física, pais querem é ver seus filhos felizes! Se você o fizer, tem todo o crédito. Muito legal o post e felicidades ao casal ;D

    Rodolfo

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  6. Obrigada Rodolfo e você tocou num ponto certo a felicidade, se todos pensassem assim.

    Abraço

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  7. Só tenho uma coisa a dizer: "EU JÁ SABIA" !!!!
    em algumas de nossas conversas vc achava que jamais iria namorar, que seus pais não iriam deixar vc viajar sozinha e aquele bla bla bla de sempre.
    Olha hoje, VC TEM SOGRA!!!! (ai meu Deus...vou te ensinar uma coisa, NUNCA CONTRARIE A SOGRA, QUE VC SERÁ A MELHOR NORA DO MUNDO...KKK)
    E tem mais vc vai pra Poços de Calda DORMIR com o namorado...
    Ahhh Day, como é bom ver vc feliz assim, sabe que quando estou meio pra baixo venho aqui ler seus post e saio renovada.
    E hoje foi uma renovação pra mim.
    OBRIGADA

    Prof° Amanda Blessa

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  8. Os piores monstros, sem dúvida, são os que moram aqui dentro! ;)
    Que bom que tudo vai bem... e que seus sogros pensam dessa forma. Tenho muita esperança de que um dia, a sociedade inteira seja assim!
    Fly way!
    Beijo

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