Olá!
Neste fim de de semana estava eu lendo o jornal mogimiriano O Popular, que inclusive pra quem não sabe eu faço parte quinzenalmente com a minha coluna chamada "Encontro de Ideias". Pois bem, mas eu não estou aqui pra falar da minha coluna, estou aqui pra falar de um texto maravilhoso escrito pela querida Vanda Vedovatto, grande jornalista, responsável pelo caderno cultural "Multi Plus" e que ainda possui uma coluna bem interessante chamada "Caro Leitor" a qual sempre gosto de dar uma lida, e neste fim de semana ela escreveu um texto sobre acessibilidade que me deixou bastante impressionada e que faço questão de dividir com vocês, vale muito a pena ler!
Os problemas dos outros
Vanda Vedovatto
Na sétima série, uma professora nos propôs que, naquele dia, ao deixarmos a escola, fizéssemos o trajeto até nossas casas, imaginando que não sabíamos ler. Deveríamos pensar que placas de trânsito, letreiros do comércio e destinos de ônibus nos eram indecifráveis. Este exercício foi uma introdução para a aula seguinte, quando nos foi explicado sobre deficiências físicas, dificuldade de locomoção e a importância de respeitar aqueles que hoje são chamados de portadores de necessidades especiais.
Mas, aos 12 anos não se tem maturidade suficiente para entender as dificuldades dos outros, porque se acredita ser o centro do universo. E a vida segue seu ciclo natural.
Assim, aos 20 anos, a principal preocupação é a carreira profissional que se começa a desenhar. Próximo aos 30 anos, pensa-se em constituir família e buscar o início de uma independência financeira. Aos 40 é a estabilidade econômica que ocupa os pensamentos. E somente lá pelos 50 é que se começa a lembrar da possibilidade de aposentadoria. E só aos 60 é que se vai pensar em envelhecer mesmo.
Não sei se é um sinal de envelhecimento precoce, mas eu pulei duas dessas etapas. Talvez eu esteja me tornando sensível demais. Mas o fato é que com 41 anos tenho pensado muito em coisas que antes não me incomodavam. É natural que sejamos todos um pouco egoístas e evitemos olhar em volta e assim nos sensibilizar com situações tão banais. É o caso da dificuldade de se locomover pela cidade.
Dias atrás, lembrei-me daquela aula lá na sétima série, e caminhei por algumas ruas imaginando desta vez que eu utilizasse uma cadeira de rodas ou um par de muletas ou já estivesse com quase o dobro da idade que tenho. Amigos, é assustador perceber que sem a ajuda de outra pessoa dificilmente se conseguiria transpor as armadilhas que as ruas e calçadas escondem.
Há falhas no calçamento, buracos, trechos em obras onde calçadas inexistem, desníveis, pisos irregulares, escadas, guias rebaixadas inadequadamente e os veículos, cujos motoristas estão sempre com pressa demais, desatentos demais e, claro, insensíveis aos pedestres, esses seres quase invisíveis.
Frisa-se tanto a importância da tal inclusão social de deficientes e idosos, mas na verdade se esquece de algo tão básico, o direito de ir e vir, que vai ficando cada vez mais penoso, para quem possui um problema físico ou está em uma idade avançada. O fato é que os problemas dos outros só nos tocam realmente quando também chega a nossa vez de encará-los.
Tentar se colocar no lugar das outras pessoas é um exercício que todos nós deveríamos fazer vez ou outra para entendê-las, respeitá-las e também fazer eco às suas vozes, para que as queixas cheguem com mais intensidade até quem pode dar-lhes solução. Eu recomendo. Boa semana a todos.
Os olhares, pois bem, está aí algo que me aterrorizou durante um bom tempo nessa vida sobre rodas, era extremamente irritante ver as pessoas me encarando por onde eu passava, me sentia um próprio extraterrestre, passear em supermercados e centro da cidade era um horror, eu realmente tinha a sensação de querer me esconder, sem contar que eu era muito mais tímida do que hoje.
Atualmente refletindo, vejo que naquela época, o que me incomodava não era o fato de as pessoas se surpreenderem e me olharem de forma diferente, o problema era eu ter que ser a menina diferente e como consequência disso ter que encarar aqueles olhares. Mas como tudo é questão de tempo, aos poucos fui me libertando daquele paradigma e percebo que essa libertação só foi adquirida quando também aprendi a me adaptar as situações, afinal, claro que o mundo precisa se adaptar com as nossas diferentes condições, porém, também temos que fazer a nossa parte sendo adaptáveis.
Eu acho que pra me curar do "terrível temor dos olhares" eu precisei aceitar antes de tudo a minha condição como cadeirante, tive que buscar a minha vida dentro daquelas condições e testar minhas capacidades e o meu potencial e foi através desses testes dia-a-dia, diante de cada obstáculo, que eu passei a aceitar muito bem o fato de ser diferente, e hoje posso dizer com clareza que não vejo mais isso como algo ruim, pode parecer estranho, mas, acho que eu até peguei gosto por essa coisa de ser diferente e chamar atenção, aliás, isso se tornou mais de uma de minhas ferramentas da vida pra alcançar meus objetivos e levantar bandeiras, o próprio blog é exemplo disso. Como eu sempre costumo dizer a cadeira de rodas foi e tem sido uma grande escola pra mim.
E se querem saber, hoje eu até gosto de ser a menina da cadeira roxa, é interessante ver as pessoas tendo reações quando passo, chego a brincar com meus amigos dizendo que quando isso acontece faço de conta que sou uma estrela de TV e é por isso que todos estão olhando. Hehe
Impactos são naturais na vida, não é todo mundo que convive com um cadeirante, talvez tenham uma reação diferente ao ver um na balada, por exemplo, naquele momento pode sim ser incomum para aquela pessoa. Preconceito? Não! Apenas uma nova impressão, isso acontece, preconceito é quando as pessoas começam rejeitar essas novas impressões, ou seja, não querer ter contato com o novo.
Achar diferente é uma coisa, não querer conviver com as diferenças é algo bem diferente e que, aliás, tem cura!
Achar diferente é uma coisa, não querer conviver com as diferenças é algo bem diferente e que, aliás, tem cura!
Até a próxima!
"E os olhares tortos já não me desfazem nenhum pouco, acho até que peguei gosto, com o tempo a gente aprende a enxergar a beleza contida na diferença e pega gosto pela coisa."
A imagem da rodada, desta vez é uma indicação do queridíssimo amigo e leitor do blog Carlos Almeida. Vai aí mais um protesto e alerta as pessoas que tem mania de ocupar as nossas vagas!
Como todos podem ver o Vivência Sobre Rodas está de visual novo! =D
Já tava mais do que na hora de mudar essa carinha do blog né, aliás, ano novo, mudanças, mais acessos tem tudo a ver com novo layout. Devo essa mudança mais uma vez ao meu amigo Dinho, o cara é fera em design e sempre me dá uma forcinha aqui! Valeu mesmo Dinho!
E claro não poderia me esquecer de mais uma vez agradecer ao grande fotógrafo Thiago Melo, que fez a foto do slogan, assim como outras que vocês podem encontrar aqui, neste post do meu ensaio >>>> CLIQUE.
Mais informações em: thiagomelofotografia.blogspot.com.
Espero que todos gostem! Sejam muito bem vindos sempre e quem sabe tragam um amigo.
Obrigada!
Já tava mais do que na hora de mudar essa carinha do blog né, aliás, ano novo, mudanças, mais acessos tem tudo a ver com novo layout. Devo essa mudança mais uma vez ao meu amigo Dinho, o cara é fera em design e sempre me dá uma forcinha aqui! Valeu mesmo Dinho!
E claro não poderia me esquecer de mais uma vez agradecer ao grande fotógrafo Thiago Melo, que fez a foto do slogan, assim como outras que vocês podem encontrar aqui, neste post do meu ensaio >>>> CLIQUE.
Mais informações em: thiagomelofotografia.blogspot.com.
Espero que todos gostem! Sejam muito bem vindos sempre e quem sabe tragam um amigo.
Obrigada!
Afazeres domésticos, pois bem, acho que é algo que nunca tratei aqui né, e não vou mentir que isso nunca foi assim parte da minha rotina. Cozinhar por exemplo, até sei algumas coisas e quando me dá na telha resolvo fazer uma coisa ou outra, aliás, prefiro fazer doces, bolo, pudim...quanto a limpar a casa, lavar roupa é algo raríssimo no meu dia-a-dia, o que eu costumava limpar era só o meu quarto mesmo. Até que semana passada minha mãe passou por uma cirurgia de varizes e como todos devem saber, este é um tipo de cirurgia em que o repouso é algo essencial, aliás, tarefa difícil essa de manter Dona Maria do Socorro deitada!
Com a cirurgia, era necessário então que eu e meu pai começássemos a nos virar com almoço, limpeza da casa, lavar roupa etc. E num é que tem dado certo, claro que nada fica igual ao que minha mãe faz,mas, está dando pra manter as coisas em ordem, apesar de meu pai não querer me deixar fazer muita coisa, tenho dado duro as vezes, lavo uma louça (enquanto meu pai não está por perto, senão me expulsa de lá, realmente super protetor), limpo os móveis, coloco comida pra os cachorros, já cozinhar fica pra o meu pai, até daria para eu fazer,mas, como o fogão não é adaptado meu pai morre de medo que eu possa me queimar, então vou fazendo outras coisas.
Ultimamente me superei, aliás, acho que este foi o maior motivo da postagem: Estou arrumando minha cama! Está bem, sei que vocês devem estar achando isso o cúmulo do absurdo, afinal arrumar a cama deve ser uma tarefa simples pra andantes, mas como cadeirante vou te contar viu, sempre me atrapalhei com isso, era uma confusão pra puxar o lençol, destorcer e deixar reto na cama, puxava uma ponta e a outra já saía do lugar, eu sempre acabava deixando pela metade mesmo, parecia impossível deixar uma cama bem arrumada estando sentada numa cadeira. Algumas vezes até subia na cama pra arrumar a parte de cima da colcha, perto da cabeceira (local mais difícil), mas daí era só eu sair da cama que já desarrumava tudo. Mas como dizem, é no aperto que a gente aprende. Agora estou arrumando a cama que é uma beleza, "to" até orgulhosa de mim viu.
Mas que essa vida de dona de casa da uma canseira não é mentira não viu, poeira por exemplo é um negócio chato, notei que limpo num dia e no outro já encheu de novo, morro de raiva, mas enquanto estou limpando as coisas parece que até me distraio, relaxo, esqueço um pouco do mundo.
Bem, agora vou descansar um pouquinho! Ah e antes que me esqueça, agora vou procurar ajudar mais nas tarefas domésticas, mesmo quando minha mãe se recuperar, prometo!
Mercado de trabalho... pois bem, já irei avisando que não sou nenhum pouco expert no assunto, afinal, nunca trabalhei (rsrs), preguiça? Não. É que eu estudo integralmente e da meia noite ás seis da manhã eu preciso dormir, o tempo que me sobra ocupo com trabalhos da facul e escrevendo para meus blogs e também para o jornal (eita vida corrida!). Porém, mesmo num entendendo muito sobre uma rotina de trabalho, vou utilizar as experiências que através de conhecimentos obtidos em noticiários, palestras, livros e etc, pra poder destrinchar isso aqui.
Cotas, pra falar a verdade é um negócio que ainda me incomoda um pouco, não gosto dessa ideia de contratar um portador de necessidade especial apenas pra cumprir com uma lei, acho que os perfis de contratação devem ser avaliados sem influências de condição física, etnia ou religião, porém, vamos combinar que nem tudo acontece da maneira que deveria, então saindo fora do conto de fadas e olhando um pouco pra situação em que nosso país se encontra penso que as cotas ainda são necessárias, pelo menos até acontecer um amadurecimento social (que assim seja!).
Penso que a criação de cotas tenha surgido mesmo do pensamento de "acostumar", fazer com que as pessoas, mesmo que no início até um tanto forçadas, aprendam a conviver com a diferença, até que isso se torne natural na mente de todos, aliás, numa sociedade tão miscigenada como a brasileira, vejo que o problema realmente esteja na maneira como se constroem os pensamentos por aqui.
Ainda que pequenas, tenho sim visto algumas mudanças nesse aspecto de lidar com a diversidade, vejo várias empresas darem depoimentos de como se impressionaram com o desempenho de portadores de necessidades especiais no trabalho e essa capacidade de superação tem chamado bastante a atenção de grande empreendedores. Eu mesma já recebi diversos convites de emprego (sem ir atrás, vejam só), ao mesmo tempo que ficava feliz, pensava poxa vou ser um "tapa buraco" por conta de uma lei?
Infelizmente tive que negar todos os convites por conta dos meus estudos, mas tenho certeza que se eu entrasse numa dessas vagas eu não iria querer ser só o "tapa buraco" e sim impressionar, crescer!
Até a próxima!
Não sei se isso ocorre com todo cadeirante, mas, uma das minhas grandes preocupações em namorar era quanto aos sogros, sei lá, eu sentia medo de não ser aceita, que sentissem ou que de repente pudessem duvidar da minha capacidade. Foi a partir disto que comecei a pensar que a tarefa mais difícil não era namorar e sim ser apresentada pra família do rapaz. Afinal, deixando de lado toda a hipocrisia vamos combinar que ter uma nora cadeirante não é comum assim, aliás, se muitas pessoas já consideram tarefa difícil ter um cadeirante na família, mesmo que seja filho, que dirá quando essa pessoa não nasceu na família.
Eu simplesmente torrava meus neurônios pensando a respeito dessa questão de aceitação."E se eles tivessem vergonha de mim". " E se a mãe dele achasse que eu não ia saber virar e que o filho deles ia acabar virando meu enfermeiro". "E se convencessem ele a terminar". Era tanto "E se..." nessa minha cabeça e o pior de tudo era que, além de ter medo, eu ainda era capaz de concordar com os pais do cara se tivessem algumas dessas atitudes, isso já se tornava inevitável em minha mente.
Eu simplesmente torrava meus neurônios pensando a respeito dessa questão de aceitação."E se eles tivessem vergonha de mim". " E se a mãe dele achasse que eu não ia saber virar e que o filho deles ia acabar virando meu enfermeiro". "E se convencessem ele a terminar". Era tanto "E se..." nessa minha cabeça e o pior de tudo era que, além de ter medo, eu ainda era capaz de concordar com os pais do cara se tivessem algumas dessas atitudes, isso já se tornava inevitável em minha mente.
No início do meu namoro com o Bruno eu já o perturbava com essas "paranóias" todas e parecia sempre estar muito mais preocupada do que ele com essa história de ter que apresentar para a família, e na verdade assumo, eu realmente estava mais preocupada!
O Bruno só me pedia pra relaxar, falando que esses meus pensamentos não tinham sentido, aliás, ele sempre foi muito tranquilo, do tipo que não se importa muito com que os outros pensam e sempre me dizia que os pais dele, assim como todo o resto da família, não iriam se importar com fato de eu ser cadeirante, mas, eu não me convencia.
Certa tarde sem que eu esperasse o Bruno me disse que já havia contado tudo para a mãe, eu não acreditei, afinal, foi tão natural quando ele disse: "Minha mãe já sabe que estou namorando viu", que cheguei a pensar que na verdade ele estivesse escondendo algo e perguntei inúmeras vezes se ele realmente teria falado do detalhe da nova namorada dele se tratar de uma cadeirante. Acho até que eu chegava a irritá-lo com essa ladainha. Pra piorar a situação nessa mesma época passava uma novela na globo chamada "Viver a Vida" que tinha uma cadeirante interpretada pela Aline Morais que sofria o drama de não ser aceita pela sogra pela sua condição física, isso me deixava ainda mais insegura.
Certa tarde sem que eu esperasse o Bruno me disse que já havia contado tudo para a mãe, eu não acreditei, afinal, foi tão natural quando ele disse: "Minha mãe já sabe que estou namorando viu", que cheguei a pensar que na verdade ele estivesse escondendo algo e perguntei inúmeras vezes se ele realmente teria falado do detalhe da nova namorada dele se tratar de uma cadeirante. Acho até que eu chegava a irritá-lo com essa ladainha. Pra piorar a situação nessa mesma época passava uma novela na globo chamada "Viver a Vida" que tinha uma cadeirante interpretada pela Aline Morais que sofria o drama de não ser aceita pela sogra pela sua condição física, isso me deixava ainda mais insegura.
Por fim, eu só fiquei mais tranquila mesmo quando pude conhecer a família de perto, e aí eu vi que não era nenhum bicho de sete cabeças, eu esperava que me fizessem milhares de perguntas, como: "Mas você consegue se virar bem?"." Já namorou antes?"." Pode viajar sozinha?". Mas nada disso aconteceu, eles foram bem simpáticos e também me trataram naturalmente, não ficavam me diferenciando, pareciam ter a mente bastante aberta e isso me trouxe muita segurança e até hoje é assim.
Vez ou outra vou até a casa dos sogrinhos em Poços de Caldas pra pousar ( na maioria das vezes é o Bruno que vem pra cá) e eu nunca me sinto um incômodo com aquela cadeira pra lá e pra cá rodando a casa, ninguém me olha de forma estranha, sou muito bem tratada e não é puxasaquismo caso minha sogra ou meu sogro venham a ler isso, só estou descrevendo os fatos, eu realmente me senti acolhida e quando eu digo está palavra não é no sentido de que alguém teve pena de mim, mas sim que me trataram de uma maneira natural, assim como as coisas devem ser.
É como sempre digo, não podemos esconder as diferenças, a cadeira está alí, todo mundo vê e não quero que a ignorem, o que eu espero é que as pessoas passem a aceitar as coisas como elas são. Citando ainda a família do Bruno, fico tão mais feliz e segura quando vejo eles realizando tarefas como, guardar minha cadeira no carro, eles fazem de forma tão natural, sem achar empecilho, é como se fizesse parte do dia-a-dia e ninguém torce o nariz, acho que quem fica mais preocupada sou eu mesma, é incrível ver como as vezes preconceitos podem partir de dentro de nós e atingir a nós mesmos.
Até a próxima!